É sempre lindo andar na cidade de São Paulo
O clima engana, a vida é grana em São Paulo
A japonesa loura, a nordestina moura de São Paulo
Gatinhas punks, o jeito ianque de São Paulo
Na grande cidade me realizar, morando num BNH
Na periferia a fábrica escurece o dia
Conheci o Premeditando o Breque por volta de 2000, quando assistia, religiosamente, ao programa dominical Bem Brasil, exibido pela TV Cultura. O apresentador, inclusive, era Wandi Doratiotto, ex-integrante do grupo, que o reuniu certo domingo para abrir a apresentação de… quem? (não lembro). Aliás, “Bem Brasil” é o nome de uma das faixas do LP O melhor dos iguais (1985), o terceiro lançado pelo conjunto sempre associado à Vanguarda Paulistana.
Achei a apresentação muito bacana e guardei comigo o nome do conjunto. Meus pais, que assistiam ao mesmo programa naquele dia, me contaram: “Fomos a um show deles aqui em São Carlos, em 1980 e pouco”.
Em 2003, eu mesmo assistiria a uma apresentação ao vivo do Premê. Acabara de entrar na USP e o campus de São Carlos, de certa forma, comemorava 50 anos de existência. O Centro Acadêmico Armando de Salles Oliveira (CAASO), também cinquentenário à ocasião, conseguira organizar um conjunto de várias apresentações musicais no recém-inaugurado Salão de Eventos da USP, algumas de artistas mais famosos. Embora tenha perdido os shows de João Bosco e de Toquinho, consegui estar presente no Ultraje a Rigor (à época, fantástico, sem igual) e nessa engraçadíssima e competente apresentação de Wandi, Mário Manga e companhia.
Nesse dia, os senhores do Premê tocaram muitos clássicos: “Lua De Mel” (uma celebração de núpcias sob a “colorida” atmosfera de Cubatão), “Marcha Da Kombi” (sobre uma Kombosa temperamental, comprada de um japonês), “Pinga Com Limão” (de Alvarenga e Ranchinho, numa divertida versão ainda mais roqueira que o já inacreditável rock original da dupla), uma debochada cover de “Give It Away” (dos Red Hot Chilli Peppers) e a sempre lembrada “São Paulo, São Paulo” – nosso tema de hoje.
Uma espécie de paródia brazuca de “New York, New York”, a canção é provavelmente a mais conhecida do Premê, e com méritos. A letra apresenta São Paulo, nua e crua, ainda que de forma poética e bem humorada. São impagáveis os versos cheios de ironias e trocadilhos, como “Não vá se incomodar com a fauna urbana de São Paulo / Pardais, baratas, ratos na rota de São Paulo / E pra você criança, muita diversão – e ‘pauluição’ / Tomar um banho no Tietê ou ver TV”.
Gosto muito da parte em que o andamento se acelera, como um trem da CPTM rasgando a cidade (tudo bem que os velhos vagões nem são tão acelerados, nem “rasgam” a metrópole por inteiro, mas a liberdade poética serve pra isso), e são enumerados diversos de seus bairros – e repare na sonoridade aposta pelos diversos nomes indígenas: “Chora Menino, Freguesia do Ó, Carandiru, Mandaqui (aqui!) / Vila Sônia, Vila Ema, Vila Alpina, Vila Carrão, Morumbi, Pari / Butantã, Utinga, M’ Boi Mirim, Brás, Brás, Belém / Bom Retiro, Barra Funda, Ermelino Matarazzo, Mooca, Penha, Lapa, Sé / Jabaquara, Pirituba, Tucuruvi, Tatuapé”. Até onde sei, Utinga, subdistrito de Santo André onde moro, é a única região mencionada “externa” à própria São Paulo (embora fique ao lado da Vila Ema e da Vila Alpina). (Quem foi que reparou isso em “São Paulo, São Paulo”? Terá sido o grande Cal, quem encontrei esses dias? Se sim, boa observação, maninho!).
Composta por Claus Petersen, Marcelo Galbetti, Mário Manga, Osvaldo Luiz e Wandi, “São Paulo, São Paulo” foi lançada num compacto em 1983, editado pela própria Lira Pauslitana, e depois incorporada ao LP Quase lindo, também de 1983 e produzido pela Lira, mas editado pela Continental.
Tocada por quase duas dezenas de músicos, incluindo Mané Silveira e seu sax certeiro, é uma das canções (ao lado de “Sampa” e “Trem Das Onze”) que melhor representa o sentimento de ser paulistano – e de se tornar um também.
No disco Vivo, gravado em 1996 e lançado em 1997, o Premê toca uma boa versão ao vivo de seu grande clássico:
Estorinha para encerrar. Ao final do show do Premê no CAASO, Mário Manga jogou à plateia alguns mimos, incluindo uma camiseta do cinquentenário do centro acadêmico.
Advinha quem pulou e conseguiu levá-la? Sim, este humilde blogueiro. Mas a questão foi quase darwinista: como a média de idade do público estava na casa também dos 50 anos, a verdade é que poucos ali conseguiriam pular mais alto que eu (então, no vigor de apenas 17 primaveras) e, de fato, estavam é pouco se lixando para uma camiseta boba – mas que uso até hoje:
Em 2004, durante o Sanca Blues, Jazz e Rock Festival – de que já falei aqui –, Mário Manga esteve novamente em São Carlos, como mestre de cerimônias desse encontro musical. No dia do blues, consegui enganar o bloqueio dos seguranças, penetrar no camarim e agradecê-lo pessoalmente pelo presente:
– Aê Mário, sabe aquela camiseta do CAASO que você atirou à plateia no show do Premê, ano passado? Eu que peguei! – exclamei, todo feliz.
– Ah é, foi você? Legal! – festejou Mário, enquanto os seguranças já me arrastavam para fora da área invadida.
haha olha eu aí! Que participação ilustre!
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Nada de cobrar direitos de imagem, hein! O blog não tem fins lucrativos!
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A música tocava muito numa novela de Sílvio de Abreu,me lembro bem das cenas externas mostrando a cidade de São Paulo.
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O nome da banda é um contrassenso,como se premedita um breque,só se for o breque de um samba de breque,rs.
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Falando nisso, preciso urgentemente trazer um samba de breque pro blog.
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