343. Sangue da Cidade: “Brilhar A Minha Estrela”

O mais importante prum guerreiro
É simplesmente a vontade de viver
Sem parar pra pensar nos momentos
Que virão
Ele sabe o que quer
Sabe o que é
Conhece o caminho
É o dono da sua verdade
Do seu destino


Que chapação.

Iria começar o texto dizendo que escutei “Brilhar A Minha Estrela” – mais conhecida canção do grupo Sangue da Cidade –, pela primeira vez, estando justamente alteradíssimo, e a altas horas da noite. Tanto que, nos ataques aos tons da bateria, antes do refrão, a paranoia delirante me fez cogitar que os vizinhos estivessem ouvindo o barulho do som e, por isso, batiam nas paredes do apartamento para que eu abaixasse o volume. Detalhe: eu estava com fones de ouvido.

Mas aí lembrei que não foi bem assim que conheci a obra composta pelo guitarrista Di Castro (hoje, Dicastro). Na verdade, certo dia, escutava uma rádio que só toca sucessos dos anos 1980, e então apareceu esse estranhíssimo reggae, com uma letra que não diz absolutamente nada – mas, ao mesmo tempo, diz tudo, e sem dizer… pois o “Dá mais um…” basta para o bom entendedor. Adorei! E, curiosamente, apesar de pretenso fã-número-um-do-BRock, jamais tinha escutado falar do Sangue na Cidade, embora já tivesse apreciado, de passagem, algo do vocalista Sérgio Vid (mais especificamente, seu projeto Rock n’ Chico, que propõe releituras roqueiras e em inglês para o cancioneiro buarquiano. O prometido álbum que coligiria esses números é aguardado desde 2014 pelos fãs, e você pode conferir no YouTube a versão de “Olhos Nos Olhos”, maravilhosamente vertida para “Eye To Eye”).

Só que também não foi bem assim. Porque, na realidade, escutei “Brilhar A Minha Estrela”, pela primeira vez, da mesma forma que milhares de brasileiros vieram a ter seu contato inicial com a canção: por meio de sua aparição no início de Tropla de elite (José Padilha, 2007), na cena em que as drogas saem dos morros e chegam ao contexto frequentado por jovens de classe média baixa (mesmo assim, chamados de playboys, pela narração em off do Capitão Nascimeento).

Ou seja, minha estória com essa canção – até o momento em que escrevo este texto – é a confluência perfeita entre forma e conteúdo.

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Sangue na Cidade: sonzeira da lata, jazia esquecida nos anos 1980, voltando à boca do povo por conta de Tropa de elite.

“Brilhar A Minha Estrela” apareceu, pela primeira vez, no lado-A de um compacto lançado em 1983. Sua primeira releitura oficial demoraria 25 anos para ser registrada: foi no DVD Festa ploc 80’s 2 (2008). O Sangue da Cidade, reunido, fez uma vibrante performance ao vivo, bastante fiel à gravação original:

Claudio Kaz, no mesmo ano, apresentou uma bacana versão para “Brilhar A Minha Estrela” em Longo caminho, mantendo a cadência do reggae:

A partir daí, pipocariam outras versões por aí.

Em 2017, a banda Fullgas gravou um belo tributo ao BRock, com repertório matador, intitulado Geração coca-cola. “Brilhar A Minha Estrela” é justamente a faixa de abertura:

No mesmo álbum, aparece um viajante remix da canção:

E mais recentemente, a banda Quorum também regravou “Brilhar A Minha Estrela”, em Ataque surpresa (2019). Aqui, a versão é vertida para o rock e, embora não supere o reggae do registro original do Sangue da Cidade, vale a escuta:

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