170. Ana Carolina: “Nada Pra Mim”

Eu não vim aqui pra entender ou explicar
Nem pedir nada pra mim
Não quero nada pra mim
Eu vim pelo que sei e, pelo que sei,
Você gosta de mim
É por isso que eu vim


Não sou fã da Ana Carolina. Concordo que a cantora mineira tem um lindo timbre, que gravou canções bonitas e quase sempre está bem acompanhada (a turnê com Seu Jorge foi uma ótima sacada). Mas há algo que me afasta: talvez o romantismo exacerbado, o modo de interpretar as canções, os arranjos… sei lá. Quem sabe, o tempo ainda me faça mudar de opinião, como já aconteceu tantas vezes.

De qualquer forma, a canção “Nada Pra Mim”, tema de hoje, sempre me agradou. Foi, na verdade, uma companheira num momento de desilusão amorosa. Ouvi-a pela primeira vez, na versão de Ana, quando da visita derrareira à casa de uma pessoa amada, já imaginando que aquele fim-de-semana juntos selaria o fim da relação. Passei algumas semanas meio jururu e com “Nada Pra Mim” na cabeça. Os versos “Tive você na mão / E agora, tenho só esta canção” caíam como uma luva… quem diria que justamente Ana Carolina viria a me consolar naquele momento de fossa!

Alguns anos depois, ainda tive alguns encontros com ela – a moça, não Ana –, que se tornou uma pessoa muito querida e amiga. Por morarmos longe e precisarmos tocar nossas próprias vidas, acabamos perdendo o contato. Não fosse isso, talvez mantivéssemos os rolês anuais até hoje, tomando um café e colocando a conversa em dia, como fizemos algumas vezes, num clima de total paz e leveza.

Traumas superados, “Nada Pra Mim” sempre me leva de volta àquele fim-de-semana que, afinal, foi muito bom, vendo na perspectiva atual.

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Ana Carolina: baladas para embalar romances e fossas.

Curiosamente, a lembrança da versão de Ana, lançada em seu álbum de estreia Ana Carolina (1999), se sobrepõe às memórias da gravação que me apresentou a canção, registrada pelo Pato Fu em seu MTV ao vivo (2002), que escutei em 2003 (empréstimo da incrível Silvia Helena logo no início de nossa amizade, quando éramos calouros do curso de Química – e parabéns para todos os filhos de Lavoisier, que ontem foi nosso dia!).

Existe uma pequena diferença na letra dos dois registros. Na versão do Pato Fu, Fernanda Takai substitui os versos “Tive você na mão / E agora, tenho só esta canção” por “Tenho um jogo de botão / Tenho essa canção”.

Acontece que, apesar de ter sido apresentada mais tarde, a letra do Pato é a original. Ana Carolina não se identificou com os versos em questão, pedindo ao compositor John Ulhoa (guitarrista do Pato Fu e esposo de Fernanda Takai) uma alternativa. O pedido de Ana foi prontamente atendido, fazendo de sua versão um lamento mais dramático, bem ao feitio de suas interpretações vocais. Já a versão do Pato, com a menção do jogo de botão, inscreve a canção entre tantas outras, da banda mineira, que mantêm elos com o universo lúdico e até infantil.

Confira o Pato Fu tocando “Nada Pra Mim”:


Vamos às versões alternativas.

No DVD Estampado – um instante que não para (2004), Ana Carolina apresenta uma singela versão acústica para “Nada Pra Mim” que, na verdade, é cantada quase inteiramente pela plateia. Bonito registro:

No álbum Na medida do impossível – ao vivo no Inhotim (2017), Fernanda Takai reapresenta a canção do marido John, talvez com seu arranjo definitivo. Novamente, a vocalista do Pato Fu prefere manter os versos originais. Ouça:

4 comentários

  1. A Ana Carolina melhorou a letra,na minha opinião.A Elis fez muito isso,inclusive eliminando estrofes inteira.

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  2. Também não gosto muito do trabalho da Ana Carolina. Acho que ele tem uma necessidade de mostrar que canta demais e acaba exagerando, sem falar de vários arranjos românticos demais e que acabam ficando cafonas. Há exceções, claro, como essa. Não sabia que essa música era do Jonh, que acaba de subir ainda mais no meu conceito.

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    1. Sim, Ana Carolina costuma ter atuações vocais muito “over”, e nem sempre os arranjos colaboram. No ano passado, criei coragem e escutei dois álbuns dela (que, na verdade, são como um único álbum duplo), Quarto e Quartinho. Surpreendentemente, encontrei canções que me agradaram muito – ao lado daquelas que são exatamente como você descreve. Enfim, não dá para descartá-la como boa compositora (são discos bastante autorais) e intérprete. E ela sabe se cercar de bons parceiros, como Seu Jorge e, no caso desta canção, John Ulhoa, que é outro compositor de destaque dos anos 1990.
      Grato pelo comentário e pela visita.

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