251. Moyseis Marques: “Nomes De Favela”

O galo já não canta mais no Cantagalo
A água não corre mais na Cachoeirinha
Menino não pega mais manga na Mangueira
E agora que cidade grande é a Rocinha!


Escutei “Nomes De Favela” pela primeira vez numa animada roda de samba, há alguns anos. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que a composição – simples e genial, jogando exatamente com os nomes das favelas cariocas, como se vê na epígrafe do post – era de ninguém menos que Paulo César Pinheiro, nosso grande compositor da canção popular brasileira.

A gravação mais difundida é a do jovem Moyseis Marques, que não nasceu no Rio, mas em Minas Gerais, e foi lembrado há pouco num post que trazia o nome de Elton Medeiros – que, numa infeliz coincidência, nos deixou há cinco dias.

Presente em Moyseis Marques (2007), “Nomes De Favela” recebeu um belo videoclipe dirigido por Renato Dias, que insere o cantor e compositor no cotidiano dos morros do Rio. Há disponível, inclusive, um making of do vídeo, que tenho o gosto de compartilhar:

Além das boas sacadas de Paulinho, gosto muito da mensagem exposta na estrofe pós-refrão, que traz vocais explorando regiões mais altas da tessitura, ressaltando um sentimento de disjunção. Trata-se, em verdade, de um apelo quase desesperado: “Pela poesia dos nomes de favela / A vida por lá já foi mais bela / Já foi bem melhor de se morar / Mas hoje essa mesma poesia pede ajuda / Ou lá na favela a vida muda / Ou todos os nomes vão mudar”.

E por falar em refrão, veja que versos mais atuais: “Não sou do tempo das armas / Por isso ainda prefiro / Ouvir um verso de samba / Do que escutar som de tiro”.

É preciso admitir: a hegemonia é das armas. O ódio está em todo lugar e, por enquanto, é vão esperar que o “verso de samba” (expressão que pode ser tomada como metáfora para a cultura como um todo) vença o “som de tiro”.

Agora, que é gozado, isso é: o governador do Rio de Janeiro, todo machão em seu gabinete – e falando, ali, em meter bala nos vagabundos –, participou do Desfile da Independência, ontem, num carro do Exército blindadíssimo.

Como sempre repete meu pai, depois da pólvora, já não tem mais homem nesse mundo. Ou, como também diz meu velho, quem tem **, tem medo.

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Moyseis Marques: voz ao povo que sofre diariamente com balas voando sobre as comunidades.

Em Casual solo (2014), Moyseis refaz “Nomes De Favela” num belíssimo arranjo voz-e-violão:

No entanto, não se pode esquecer que a canção já foi gravada por outros grandes nomes do samba. A começar pelo próprio autor, em Lamento do samba (2003), com um belo coro e ótimas baixarias no violão. Embora Paulinho transite entre variadíssimos gêneros e ritmos brasileiros, é no samba que o compositor (e também cantor e escritor nas horas vagas) se apresenta mais à vontade. Confira:

Em Samba Social Clube 3 (2009), a incrível Leci Brandão relê ao vivo “Nomes De Favela”, dessa vez, como um partido certeiro. (E fiquem ligados, em breve haverá um clássico dos bons, gravado por Leci, aqui no blog). Ouça essa maravilha:

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