66. Biquíni Cavadão: “No Mundo Da Lua”

Quando os astronautas foram à Lua
Que coincidência, eu também estava lá
Fugindo de casa, do barulho da rua
Pra recompor meu mundo bem devagar
Que lugar mais silencioso
Eu poderia no universo encontrar,
Que não fossem os desertos da Lua
Pra recompor meu mundo bem devagar?


O Biquíni Cavadão é uma banda simpática, que merecia maior reconhecimento. Não chega a ser uma injustiça sua alocação no “segundo escalão” do BRock, mas… fica a sensação de que os rapazes que cantam “Tédio” poderiam ter sido redescobertos, sei lá, como o Capital Inicial o fora – numa espécie de acesso à primeira divisão. Afinal, como consta no livro BRock – o rock brasileiro dos anos 80, do jornalista Arthur Dapieve (São Paulo: Editora 34, 1995),

o Biquíni Cavadão era, se não respeitado, ao menos tolerado, tolerado como a mais adolescente manifestação do BRock. Bruno, Miguel, André [Sheik], Álvaro e Carlos Coelho […] levariam muito tempo para se livrar da imagem de colegiais, de CDFs, de nerds. Verdade que no começo essa imagem simplesmente não os incomodava. Até por corresponder à realidade. Para o bem e para o mal, “Tédio” retratava perfeitamente seu título. A mais animadinha “No mundo da Lua”, idem, através de versos como “Não quero mais ouvir / A minha mãe reclamar / Quando eu entrar no banheiro / Ligar o chuveiro, mas não me molhar” (p. 174).

Pois é isso o que ouvimos em “No Mundo Da Lua”, tema composto por Bruno, Sheik, Miguel e Álvaro: uma banda adolescente dando voz aos adolescentes, essa curiosa classe de seres humanos, que preferem os devaneios à realidade, desejando pairar no mundo da lua, esquecidos num lugar solitário. Quantas vezes me vi nessa situação, naquela idade!

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O Biquíni de antigamente: figurantes no BRock, lutando com ótimas canções para conquistar um lugar ao sol.

Além da letra de fácil identificação, a canção de hoje tem outro atrativo: é uma new wave assumidíssima, com todos os excessos que caracterizam o estilo. Há uma profusão de teclados, com os timbres mais absurdos possíveis. As guitarras também são propositadamente engraçadas, e trazem alguns riffs que, para mim, foram chupados de “L’Aventurier”, do conjunto francês Indochine (faixa, aliás, descaradamente copiada também pelo Ultraje a Rigor, que fez “Rebelde Sem Causa” a partir dela). Compare os sons que surgem em 0’13” de “No Mundo Da Lua” com a passagem aos 0’26” de “L’Aventurier”:

O BRock é um manancial de grandes canções… e também de grandes plágios! (Ou, mais eufemisticamente, “inspirações”).


Existem diversas versões para “No Mundo Da Lua”.

Uma espécie de raridade é a versão verdadeiramente original, lançada como lado-B do compacto Tédio (1985). Temos, aqui, um andamento menos acelerado e um tom levemente mais roqueiro que a versão que abre o post, lançada no disco Cidades em torrente (1986). Vem até com um solo de guitarra ao final! Ouça:

Em seu primeiro registro oficial de um show – Ao vivo (2005) o Biquíni também tocou a canção, agora transformada num divertido ska, com direito a metais, uma passagem meio reggae e uma participação especialíssima: a do fã Roderic Szasz, que sobe ao palco para cantar o final. Veja:

Em 2007, a banda lançou Sucessos regravados, de título autoexplicativo. “No Mundo Da Lua” teve, assim, esse arranjo ska registrado em estúdio:

Finalmente, em seu DVD ao vivo mais recente (Me leve sem destino, de 2014), a mesma versão reaparece, com a participação de outra fã: Joseanne Carla. A garota se diverte à beça! Confira e divirta-se também:

4 comentários

  1. Me lembrei de um colega que ficava duas horas no banheiro,não se ouvia barulho nenhum,rs.Quanto ao Biquíni Cavadão,eu sempre gostei.

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